quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Xilogravura

A história da xilogravura no Ocidente acompanha o desenvolvimento das artes gráficas e os esforços de popularização do conhecimento, contra o poder e a escassez de recursos. Na Europa Medieval, a imprensa nasceu totalmente xilográfica e barateou os primeiros livros impressos como a bíblia dos pobres. O jogo de baralho foi democratizado pela fabricação clandestina das cartas até então luxuosas e só permitidas à nobreza e ao alto clero. Só no século XV, essa técnica milenar chinesa foi promovida à categoria das artes plásticas.

No Brasil, trazida pelo colonizador português como arte utilitária, a xilografia era uma atividade ilegal até encontrar abrigo na tardia imprensa oficial do Império. No final do séc. XIX, quando as elites nacionais da produção editorial passaram a utilizar os clichês de metal e a modernizar os meios de reprodução, os prelos obsoletos tornaram-se acessíveis aos pequenos empreendedores que viabilizaram os negócios de tipografias espalhadas pelo interior do país. Longe dos grandes centros, o corte na madeira era economicamente viável para essas tipografias. A xilogravura, então, volta a esculpir as matrizes dos cabeçalhos de periódicos, almanaques, rótulos de embalagens e anúncios publicitários. Mas é a partir da década de 30, do séc. XX, com o fenômeno da literatura de cordel, que a xilogravura encontra a autêntica expressão brasileira. Essa poesia do povo impressa, vinda da tradição oral, dos antigos menestréis, trovadores e jograis - que herdamos da Península Ibérica -, teve no Nordeste, um terreno propício para criar raízes. Adquiriu características próprias ao traduzir "cantigas de amor e de personagens de além mar" para a realidade de nossa terra. Pelas mãos de artesãos do povo, o sobrenatural e o fantástico, os fatos acontecidos, os atos de bravura e de amor, o cangaço, as personalidades religiosas e políticas, enfim, a realidade e o imaginário sertanejos foram talhados à exaustão para cristalizar em imagem a narrativa do cordel nas capas dos folhetos. Na década de 60, a xilogravura popular começa a ganhar admiradores do mundo acadêmico, repercussão internacional e finalmente chega às galerias de arte. Conquista novo público e status de arte independente.

Ao contrário da xilogravura erudita, com vasta historiografia e que registra como pioneiro no Brasil Oswaldo Goeldi, em 1924, os primeiros gravadores populares brasileiros eram anônimos. Poucos escaparam do esquecimento, como mestre Noza e Walderêdo Gonçalves.

Hoje, com uma trajetória incontestada de mais de dois séculos no Brasil, a xilogravura ainda é pouco conhecida pelos brasileiros. A maioria dos representantes populares espalhados pelo país faz xilogravura por teimosia, à revelia das instituições. Apesar desses artistas começarem a utilizar novas tecnologias como computador, scaner e Internet, eles contam mesmo é com a criatividade diante das dificuldades materiais, munidos de prego, estilete, apetrechos de cozinha, para talhar as autênticas "telas" de madeira.
Esdra Campos - jornalista e pesquisadora do projeto Xilobrasil que visa o mapeamento da xilografia popular brasileira.








 Você encontra a arte em xilogravura em: www.casagrandeesenzala.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário