terça-feira, 22 de novembro de 2011

O Jangadeiro

A jangada faz parte da paisagem de todo o Nordeste e o jangadeiro é cantado em prosa e verso pelos poetas cearenses. Um destes poetas foi Juvenal Galeno. A jangada veio da Ásia, daí seu nome: "xanga". Foi trazida pelo navegador português, no final do século XVI. Ela se adaptou perfeitamente as condições do Nordeste brasileiro, cujas as condições da plataforma e do vento sempre foram favoráveis. O jangadeiro vive da pesca, navegando ao sabor doce das ondas nas embarcações que os portugueses trouxeram da Índia. Este homem condicionou sua existência ao meio ambiente.No meio à brancura angelical das areias brotam os telhados de palha das choças destes pescadores. A terra é árida, a horta reduzida, portanto o homem teve que buscar o alimento de cada dia no mar, fonte quase única de sobrevivência.

A única fruta que não é escassa é o caju e à sua sombra erguem-se os casebres. Apanhar caju é ocupação feminina. Caju rasgado do dente, mastigado com vagar, engolido com bagaço, é segundo uma tradição, remédio purificador do sangue. Dizem os jangadeiros que "Deus mandou o caju para que os pescadores não passassem fome como os matutos do sertão". E realmente, o caju está presente em todos os pratos. Na tambança, o vinho de caju. No canjirão, a castanha pilada e misturada com farinha de mandioca e mel de caju.

“ A jangada, feita de cinco paus e á vela, é a embarcação típica dos nordestinos. No Ceará, os jangadeiros afrontam todos os riscos, no mar, com as suas jangadas. É com elas que se fazem ao largo para voltar horas depois com os “dourados”, “guambas”, “arrabaianos” e outros peixes. Uma Jangada, vale em média, cinco mil cruzeiros.”
 
Aos meninos, com mais de sete anos, cabe-lhes o ofício de desencalhe da jangada do pai, ou de quem lhe peça ajuda. O mar cearense imprimi desde cedo a sua posse à alma destes homens, tanto é fato que, é este um grupo que menos imigra para outras profissões. Todos os pescadores são filhos de pescadores e entre eles existe muita disciplina e solidariedade.. A hierarquia é respeitada.

O mestre tem a função de conduzir a jangada. Seu posto é o banco-do-governo. A jangada possui duas velas, uma mestra e outra menor que chamam de "estais", mas que corresponde a "genoa" na linguagem náutica. Quando içada esta vela, o leme folga. A escota é de nylon e a bolina mede 1,40m, necessária para uma maior estabilidade. A velejada toma duas direções: "contra-vento"e "través".

A navegação é rudimentar, sem uso de equipamentos, nem mesmo uma bússola. O jangadeiro memoriza o lugar de pesca na cabeça e traça uma rota, sem muito comprometimento. O proeiro fica onde melhor equilibrar a jangada e também é responsável de caçar e folgar as velas. Cabe-lhe, além disso, o recolhimento da pesca que é colocada no samburá. O jangadeiro é o herói anônimo cantado e louvado pelos cancioneiros. Ele foi também, o primeiro brasileiro a negar-se de transportar negros escravos, pois sempre acreditou que todas almas são livres para voar pelo mar verde-esperança, cujas vagas acariciam as areias de ouro.

No Movimento Abolicinista Cearense, surgido em 1879, teve um homem humilde, de cor parda e jangadeiro, que destacou-se, seu nome"Chico da Matilde. Ele vinha à frente de todos seus companheiros, recusando-se a transportar para os navios negreiros os escravos vendidos para o sul do país.
Chico da Matilde, foi levado para corte em sua jangada, desfilou pelas ruas recebendo, inclusive chuva de pétalas de flores, ganhando também um novo nome: Dragão do Mar. Símbolo da resistência popular cearense contra a escravidão, o Dragão do Mar agora designa merecidamente o Centro de Arte e Cultura de Fortaleza.

* Produtos dos jangadeiros você encontra em: www.CasaGrandeeSenzala.com

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