segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Balata

Balata é o látex de uma árvore denominada balateira, também conhecida como maparajuba(Manilkara bidentata), da família das Sapotáceas, comum nos estados do Norte do Brasil, de onde se extrai uma goma elástica e visguenta semelhante ao látex da seringueira. M. G. S. D. Magalhães, contudo, em sua tese de doutorado (MAGALHÃES, 2006), afirma que a balata é extraída de uma árvore cujo gênero é Mimusopis (MAGALHÃES, 2006: p. 194). Com efeito, a balata pode ser obtida de duas árvores sapotáceas, Mimusopis amazonica e Manilkara bidentata (SILVA, 2007: p. 153)



Extração e beneficiamento

A balata é utilizada por índios da Amazônia na produção de objetos como adornos, utensílios e urnas funerárias. Como aconteceu com outros indígenas, de diversas etnias autóctones, os Macuxi, do baixo Rio Branco, por exemplo, no início do século XIX, com a expansão da exploração da borracha (Hevea brasiliensis), do caucho (Castilloa ulei) e da balata (Manilkara bidentata / Mimusopis amazonica), foram arregimentados - na época dos assim chamados "descimentos" (aldeamentos de índios, empreendidos por missionários, no início, e também por militares, depois) -, para a área do rio Negro e para o próprio vale do rio Branco, engajados como força de trabalho no extrativismo florestal. 
A extração da balata foi filmada, em 1921, por Silvino Santos e Agesilau Araújo, para o clássico filme documentário No paiz das Amazonas, exibido na Exposição do Centenário da Independência, no Rio de Janeiro (1922), tendo sido apresentado, posteriormente, nas principais capitais do Brasil e da Europa e nos EUA. Na sinopse dessa película fílmica, consta: "(...) o filme retrata diversas formas de sobrevivência e trabalho na região: a pesca do peixe-boi e do pirarucu, a extração da balata e o preparo do látex, a extração da castanha e o preparo do guaraná (...)".
A balata permite a produção artesanal de objetos semelhantes aos objetos de borracha, como bolas e sapatos, e lúdico-decorativos, miniaturizados. Grandes objetos de balata, como engrenagens de moinhos, apresentam a dureza necessária ao funcionamento desses engenhos . A balata é utilizada industrialmente na fabricação de correias de transmissão, planas ou trapezoidais, como ocorre com outros materiais utilizados na engenharia mecânico-industrial: borracha, couro, canvas (lona: tecido resistente de linho grosso) etc. 
Os blocos desse látex são aquecidos em banho-maria no momento da confecção das peças artesanais, que, em sua forma final, apresentam textura semelhante ao couro. A cor dos objetos de balata vão desde o cinza-claro (miniaturas) ao marrom-avermelhado (urnas funerárias, indígenas). Peixes-bois em miniatura, de balata, são pintados de preto, enquanto botos, de cor rosa. Na atualidade, são moldados objetos como sapatos e galochas, por exemplo, como miniaturas de animais da fauna brasileira: o boto, o pirarucu, a tartaruga, o macaco, o cavalo, o boi, a cobra, o búfalo da Ilha de Marajó etc. No Mercado Municipal Adolpho Lisboa, construído no apogeu da Época Áurea da Borracha - que apresenta estrutura arquitetônica de ferro, oriunda da Inglaterra -, de Manaus, as esculturas que representam, em tamanho reduzido, índios, remos, canoas, ocas, malocas e animais são apreciadas por turistas e colecionadores de peças do artesanato amazônico.
O tecnologicamente avançado setor industrial da capital do Estado do Amazonas (Brasil) - o PIM - abriga um segmento de produção de eletro-eletrônicos. Nesse Pólo Industrial de Manaus (PIM, anteriormente denominado Distrito Industrial), há a Rua Balata, a confirmar a importância sócio-econômica do produto, no Estado do Amazonas

Dados científicos

M. G. S. D. Magalhães, na tese de doutorado intitulada Amazônia Brasileira: do extrativismo vegetal na mesorregião sul de Roraima (Porto Alegre: PUC-RS, 2006), inclui a balata entre os quatro principais produtos da extração vegetal da região sul-roraimense: borracha (produto da seringueira, Hevea brasiliensis), castanha (amêndoa da castanheira, Bertholletia excelsa), balata (produto das árvores conhecidas como balateiras, Manilkara bidentata / Mimusopis amazonica) e sorva ou sorvinha (Couma utilis, MAGALHÃES, 2006: pp. 184 - 195) .
Não se deve confundir a verdadeira maçaranduba (Manilkara hubericom a maparajuba (balata:Manilkara bidentata), que é uma subespécie da maçaranduba: "Manilkara huberi [a verdadeira maçaranduba] é uma árvore com cerca de 40-50 m de altura. Ocorre geralmente nas regiões de terra firme da Amazônia de até 700 m de altitude. Dentre as espécies do gênero, Manilkara huberi é a mais conhecida e com a maior distribuição na Amazônia. Apesar de ser facilmente reconhecida devido às suas folhas grandes e amarelas na face abaxial, é frequentemente confundida com outras espécies do gênero devido à similaridade dos seus troncos" (Embrapa / Brasil).
A balata é agrupada, comercialmente - pela indústria madeireira -, no grupo maçaranduba: "Os madeireiros geralmente agrupam sob o nome comercial maçaranduba várias espécies parecidas (M. huberi, M. paraensis, M. cavalcantei, M. bidentata spp. surinamensis), e as cortam da mesma forma. No entanto, cada uma tem a sua dinâmica de população (DAP máximo, relação crescimento/taxa de mortalidade específica, etc.), que tem papel crucial na reconstituição futura dos estoques exploráveis. Dentre estas espécies, M. huberi atinge o maior DAP, e por isso é a espécie mais interessante economicamente e consequentemente a mais explorada. Caso não haja a distinção clara entre as espécies nos inventários comerciais, depois de 30 anos é provável que não haja estoque de árvores grandes de maçaranduba, sendo que as remanescentes serão, em grande parte, M. bidentata ssp. surinamensis e M. paraensis, as quais atingem DAPs sempre menores que de M. huberi. Estudos em Paragominas, Pará, uma área intensamente explorada por madeira, mostram que isso está acontecendo lá" (idem).
Por ser menos explorada no âmbito da indústria madeireira, a maparajuba (balata) encontra-se mais preservada do que as árvores da maçaranduba verdadeira, quando estas alcançam grande porte.

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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A Origem da Cachaça





A economia açucareira promoveu a invenção dessa bebida tipicamente brasileira.
No começo da colonização do Brasil, a partir de 1530, a produção açucareira apareceu como primeiro grande empreendimento de exploração. Afinal, os portugueses já dominavam o processo de plantio e processamento da cana – já realizado nas ilhas atlânticas – e ainda contavam com as condições climáticas que favoreciam a instalação de grandes unidades produtoras pelas regiões litorâneas no território.
Para que todo esse trabalho fosse realizado, os portugueses acabaram optando pelo uso da mão de obra escrava dos africanos. Entre outras razões, os colonizadores notavam que os escravos africanos eram adaptados ao trabalho compulsório, apresentavam maiores dificuldades para empreender fugas e geravam lucro à Coroa por conta dos impostos cobrados sobre o tráfico negreiro.
No processo de fabricação do açúcar, os escravos realizavam a colheita da cana e, após ser feito o esmagamento dos caules, cozinhavam o caldo em enormes tachos até se transformarem em melado. Nesse processo de cozimento, era fabricado um caldo mais grosso, chamado de cagaça, que era comumente servido junto com as sobras da cana para os animais.
Tal hábito fazia com que a cagaça fermentasse com a ação do tempo e do clima, produzindo um liquido fermentado de alto teor alcoólico. Desse modo, podemos muito bem acreditar que foram os animais de carga e pasto a experimentarem primeiro da nossa cachaça. Certo dia, muito provavelmente, um escravo fez a descoberta experimentando daquele líquido que se acumulava no coxo dos animais.
Outra hipótese conta que, certa vez, os escravos misturaram um melaço velho e fermentado com um melaço fabricado no dia seguinte. Nessa mistura, acabaram fazendo com que o álcool presente no melaço velho evaporasse e formasse gotículas no teto do engenho. Na medida em que o liquido pingava em suas cabeças e iam até a direção da boca, os escravos experimentavam a bebida que teria o nome de “pinga”.
Nessa mesma situação, a cachaça que pingava do teto atingia em cheio os ferimentos que os escravos tinham nas costas, por conta das punições físicas que sofriam. O ardor causado pelo contato dos ferimentos com a cachaça teria dado o nome de “aguardente” para esse mesmo derivado da cana de açúcar. Essa seria a explicação para o descobrimento dessa bebida tipicamente brasileira.
Inicialmente, a pinga aparecia descrita em alguns relatos do século XVI como uma espécie de “vinho de cana” somente consumida pelos escravos e nativos. Entretanto, na medida em que a popularização da bebida se dava, os colonizadores começaram a substituir as caras bebidas importadas da Europa pelo consumo da popular e acessível cachaça. Atualmente, essa bebida destilada é exportada para vários lugares do mundo.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
Equipe Brasil Escola                                        
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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Caboclos

Caboclo é o mestiço de branco com índio; caboco, mameluco, caiçara, cariboca, curiboca. Antiga designação do indígena brasileiro.

Câmara Cascudo, no Dicionário do Folclore Brasileiro, defende a forma caboco, sem o L, que teria sido introduzido na palavra sem encontrar base nas diversas hipóteses etimológicas, como a que afirma derivar do tupi caa-boc, "o que vem da floresta" ou de kari’boca, "filho do homem branco". Os caboclos formam o mais numeroso grupo populacional da região amazônica e dos estados do Rio Grande do Norte,Piauí, Alagoas, Ceará e Paraíba.
Também pode ser sinônimo de:
  • tapuiu, termo genérico de desprezo usado por determinados povos indígenas quando se referiam a indivíduos de outros grupos. Caboclo de cor acobreada e cabelos lisos; caburé.
  • Caipira, roceiro, sertanejo. A figura de Jeca Tatu, criação de Monteiro Lobato, foi imortalizada na música popular, no palco e no cinema (por Amácio Mazzaropi).
No Brasil há o Dia do Caboclo, comemorado em 24 de junho.
Também é o nome dado às entidades lendárias indígenas, ou de manifestações de religiões como o caboclo que se incorpora nos ritos deCandomblé de Caboclo, no Catimbó, na Macumba, no Batuque e na Umbanda.
* Caiçara é uma palavra de origem tupi que refere-se aos habitantes das zonas litorâneas. Inicialmente designava apenas a indivíduos que viviam da pesca de subsistência. Mais tarde, o termo caiçara veio designar diversos itens de cunho cultural no litoral brasileiro, mais precisamente no sul e sudeste.
As comunidades caiçaras nasceram a partir do século XVI da miscigenação de brancos de origem portuguesa com grupos indígenas das regiões litorâneas do estado de São Paulo (tupinambás) e do oeste fluminense. Também houve o aporte de negros libertos que se afastaram das influências das áreas urbanas (cidades e vilas).
* Caipira 
O termo caipira (do tupi Ka'apir ou Kaa - pira, que significa "cortador de mato"), é o nome que os indígenas guaianás do interior do estado de São Paulo, no Brasil, deram aos colonizadores brancos, caboclos, mulatos e negros.
É também uma designação genérica dada, no país, aos habitantes das regiões situadas principalmente no interior do sudeste e centro-oeste do país. Entende-se por "interior", todos os municípios que não pertencem às grandes regiões metropolitanas nem ao litoral onde existe o caiçara. O termo caipira teve sua origem e costuma ser utilizado com mais frequência no estado de São Paulo. Seu congênere em Minas Gerais é capiau (palavra que também significa cortador de mato), na região Nordeste, matuto, e no Sul, colono.
No sul do país (Curitiba), caipira também significa Caipirinha, bebida alcoólica brasileira. ( cachaça, limão e açúcar)
Fonte: Wikipedia
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terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Boi de Máscaras de São Caetano de Odivelas

O boi de máscaras de São Caetano de Odivelas, que completa 70 anos em 2007 

As obras de Bruno de Menezes e Vicente Sales são "leituras obrigatórias" para quem busca referências bibliográficas sobre a brincadeira de boi no Pará, tanto por fazerem parte das poucas publicações sobre o tema, quanto pelo "selo de qualidade" impresso nelas. José Guilherme dos Santos Fernandes oferece a sua contribuição e a sua versão para as reflexões a respeito da brincadeira, com "O boi de máscaras: festa trabalho e memória na cultura popular do Boi Tinga de São Caetano de Odivelas, Pará". A obra é o resultado da sua tese de doutorado em Literatura Brasileira, defendida no ano de 2004, na Universidade Federal da Paraíba, e publicada este mês pela Editora da UFPA.

O pesquisador observou manifestações do gênero no Amazonas e no Maranhão, mas centralizou seu estudo no boi mais antigo de São Caetano de Odivelas, o Tinga, que completa 70 anos em 2007. Como metodologia, José Guilherme lançou mão da história oral, em especial da narrativa de quem preserva parte do patrimônio imaterial da cidade, os próprios brincantes. Entre eles, Seu Zé do Lode, de cerca de 80 anos, filho de um dos fundadores do Tinga, ao lado de Tito e Seu Murilo Chagas. Também foram interlocutores do pesquisador Baú, Lúcio, Seu Luci, Anilson, Mucá, Synthia, Fernanda e Seu Silvano, o maestro já falecido. Foi um reencontro também com sua própria história, diz José Guilherme, que é filho de odivelense. A essas vozes, se somaram a de autores como Antônio Gramsci, Poul Thompson, García Canclíni, Roberto da Matta, Tinhorão, Adorno e Walter Benjamin, Elias Xidieh e Zygmunt Bauman, e do músico bragantino Toni Soares.

O Tinga não é só o mais antigo boi em atividade no município, mas é também o único que se mantém regularmente, que não deixou de sair às ruas em nenhum ano, como acontece freqüentemente com outros bois. E, como costuma acontecer com muitas manifestações populares, afirma José Guilherme, ele igualmente deixou de ser apenas uma tradição de família para se tornar tradição de uma comunidade. O status seguinte, o de símbolo de identidade regional, é parte do objeto de análise de José Guilherme. Para ele, esse discurso tem sido difundido pelo Estado e é falacioso. Esse conceito de identidade, explica o pesquisador, pressupõe a existência de um gosto comum e generalizado. "Qualquer política pública tem que entender que isso é diverso, heterogêneo", afirma. Outro discurso, acrescenta ele, parte da indústria cultural, "que pode ser interessante, porque é uma forma de se ter uma renda local, mas pode ser perigoso, porque geralmente tende a homogeneizar o 'produto'". O terceiro discurso, diz José Guilherme, é construído pelos brincantes, em que a brincadeira aparece como um "grande pretexto para que se estabeleça uma vida comunitária, o que eu chamo de processo".

Orientadora de José Guilherme, Maria Ignez Novais Ayala diz na apresentação do livro que "trata-se, pois, de um trabalho de militância cultural em um país que não consegue visualizar, ainda, sua enorme diversidade cultural e as referências culturais de cada lugar, de cada município. (...) A visão oficial, que privilegia o Festival de Bois de Parintins ou os Bois de São Luís do Maranhão, ao nivelar tudo como se fosse uma coisa só, impede que se conheça a história e a riqueza de informações que cada manifestação guarda através de seus participantes". Ela acrescenta ainda que a publicação da tese é extremamente oportuna, já que "desde 2005 tem crescido no Brasil o interesse pelo patrimônio imaterial, a partir dos documentos da Unesco, que buscam criar salvaguardas para o conhecimento transmitido oralmente através de gerações em vários países".


Brincadeira é resultado de miscigenação cultural

O Boi Tinga é uma variação do boi-bumbá e só ocorre no Pará, segundo José Guilherme Fernandes. Ele não apresenta a tradicional narrativa de "Catirina e Pai Francisco", como a maioria dos outros, especialmente no Maranhão. O Tinga sofre influências de diferentes culturas, como a européia. O pesquisador cita a presença dos pierrôs e do próprio boi, como elementos "estrangeiros". Na Espanha, exemplifica, tem o chamado carnaval táurico. Elementos da cultura nordestina também podem ser percebidos no Tinga. Seu Silvano relatou a José Guilherme que o primeiro boi de São Caetano foi o Ribanceira, criado por um maranhense e no qual se usava "umas tabuinhas", espécie de matracas manipuladas por grupos de boi do Maranhão. Além de instrumentos tipicamente usados em manifestações populares, há instrumentos tradicionalmente presentes em manifestações da cultura classificada como erudita, como os metais trompete e sax. O mesmo Seu Silvano, até antes de falecer, era responsável por escrever partituras das músicas do grupo, como um maestro de clássicas orquestras. Muitos músicos do grupo são membros das bandas da cidade, assim como vários brincantes do boi são também dançarinos das quadrilhas juninas, o que, segundo o pesquisador, é uma demonstração do cruzamento de culturas que, mesmo resultando numa solução diferenciada, resguarda referências do passado.

O resultado da miscigenação é absorvido e elaborado pelas gerações seguintes, que se integram à brincadeira informal e espontaneamente, como é a dinâmica da manifestação. Maxico é quem cria as músicas do Tinga atualmente e, durante a quadra, ele e os músicos se encontram na casa do Seu Zé do Lode, de onde sai o boi. Ficam tocando até a hora que acharem conveniente para sair às ruas da cidade, em geral, no final da tarde. Saem e param em frente às casas que pediram, na véspera, para serem contempladas com a brincadeira. "As pessoas aprendem na hora, aprendem vendo. O boi sai e ao largo as crianças começam a 'ensaiar'. Futuramente elas saem embaixo do cabeçudo, do tripa, de pierrô...", narra. Essa espontaneidade, defende José Guilherme, é importante de ser preservada e não deve sofrer com imposições de horários e locais para apresentação.

Os participantes são quase todos homens, de diferentes faixas etárias. O pesquisador explica que marca de gênero é resultado de uma característica da brincadeira. "A brincadeira exigia maior esforço físico, por isso antes ela era mais masculina. Hoje as mulheres já começam a participar, a ponto de, em algumas apresentações, ao final, só restarem mulheres brincando, até porque os homens já estão quase todos cansados ou excedidos na bebida", ressalta José Guilherme. Outra explicação, acredita ele, deve ser a relação com a atividade que exercem os brincantes. Em geral são pescadores, que fazem da festa uma continuidade do seu ofício. São Caetano de Odivelas é uma cidade de cerca de 20 mil habitantes, às margens do rio Mojuim. É do rio e do mangue que cerca o município que boa parte da população tira seu sustento.


Livro apresenta crítica à postura de gestores e glossário a neófitos

José Guilherme critica o que chama de falta de equidade na distribuição de recursos públicos para financiar atividades e manifestações culturais. "Em São Caetano, tem o festival do caranguejo, no mês de dezembro. Em 2002, a prefeitura investiu R$60 mil para levar o grupo É o Tchan para a cidade e R$300 para o boi brincar o mês de junho inteiro. (...) Esse é o problema do discurso da identidade, ele oculta essas contradições", lamenta o pesquisador.

Além da análise, José Guilherme também registra no seu livro - recheado de declarações de brincantes e que teve a impressão patrocinada pelo Banco da Amazônia (Basa) - um breve glossário, importante para iniciar os "estrangeiros", como os exemplos a seguir:

Brincante: é toda pessoa que participa diretamente da manifestação, fantasiada e assumindo o papel de um dos personagens tradicionais.

Cabeçudo: o brincante veste, da cintura para cima, uma enorme cabeça, em formato humano, feita de talas e envolta em papel-machê; dele sai um paletó e as pernas.

Tripa: brincante que dança embaixo do boi, deixando apenas as pernas à mostra.

Pierrô: um dos personagens centrais. Tem grande semelhança com a clássica italiana, com largo macacão de cetim, com listras coloridas e um pano de costas, um capacete em estilo mourisco, feito de talas de madeira, papel jornal e celofane e a clássica máscara com enorme nariz.

Fonte: www.ufpa.br                                           Você encontra em: www.casagrandeesenzala.com

segunda-feira, 24 de outubro de 2011


cerâmica marajoara é um tipo de cerâmica, fruto do trabalho das tribos indígenas da ilha de Marajó (PA), na foz do rio Amazonas, durante o período pré-colonial de 400 a 1400 d.C., no Brasil. O período de produção desta cerâmica tão sofisticada esteticamente é chamado de "fase marajoara", uma vez que existem sucessivas fases de ocupações na região, cada um delas com uma cerâmica característica.
A fase marajoara é a quarta fase de ocupação da ilha. Sucessivamente as fases de ocupação são:~~Fase Ananatuba (a mais antiga), a Fase Mangueiras, a Fase Formigas, a Fase Marajoara e a Fase Aruã. Destas cinco fases, a Fase Marajoara é a que apresenta a cerâmica mais elaborada, sendo reconhecida por sua sofisticação.
A cerâmica marajoara foi descoberta em 1871 quando dois pesquisadores visitavam a Ilha de Marajó, Charles Frederick Hartt e Domingos Soares Ferreira Penna. Hartt se impressionou tanto com o que viu que publicou um artigo em uma revista científica, revelando ao mundo a então desconhecida cultura marajoara.
Os estudos na ilha de Marajó sobre tal cerâmica e o povo que a confeccionou ganharam impulso a partir do fim da década de 1940, quando chegou à ilha o casal de pesquisadores americanos Betty Meggers e Clifford Evans. Embora muitos estudos sobre a cerâmica já houvessem sido publicados até então, as pesquisas no local só ganharam força a partir desta data.
Alguns arqueólogos encontraram objetos de cerâmica em bom estado de conservação, realizados com destreza, tendo em conta as formas esguias e curvilíneas perfeitamente moldadas, e delicadamente decorados e pintados.
Tais objetos pertenceram à chamada "fase marajoara", um antigo povo da região amazônica. Através de grandes pesquisas, pôde descobrir-se que os índios marajoaras levantavam suas casas sobre morros artificiais, construídos para proteger as casas de inundações. Escavando esses morros, os arqueólogos encontraram vasos, vasilhas, urnas, tigelas e outras peças de cerâmica, feitas com argila cozida da região marginal. Os objetos que mais chamaram a atenção foram encontrados em sepulturas.

Acervos

O maior acervo de peças de cerâmica marajoara encontra-se, actualmente, no Museu Paraense Emílio Goeldi. Porém, outros museus e galeria conservam peças de grande valor cultural, como o Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, o Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo , em São Paulo, e o Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral. Museus estrangeiros também conservam espólios interessantes como o Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque.
Entre os mais significativos espólios de cerâmica da região, o Museu do Marajó, criada em 1972, reúne peças de uso quotidiano e de costumes, relacionando-se com o aspecto cívico-religioso da civilização. O museu foi criado com o intuito de promover e dar a conhecer ao público a cultura e a arte de uma civilização já remota.

Cerâmicas



Os índios de Marajó realizavam objectos utilitários, mas também decorativos. Entre os vários objetos encontrados pelos pesquisadores encontram-se vasilhas, potes, urnas funerárias, brinquedos,estatuetas, vasos, pratos e tangas para cobrir as zonas genitais das jovens, igualmente feitas de cerâmica. A igaçaba, por exemplo, era uma espécie de pote de barro ou uma talha grande para a água, que servia para conservar alimentos e outros. Hoje existem várias cópias das igaçabas de Marajó.
Todos apresentam uma grande diversidade de formas e padrões de decoração, sendo um dos mais conhecidos o das urnas globulares que apresentam decoração pintada e modelada representando figuras antropomorfas. Outros tipos de urnas combinam pintura, o uso de incisões e excisões e modelados que representam figuram antropomórficas e zoomórficas. Outros vasos foram decorados com pintura de motivos geométricos, podendo ser citados neste caso formas mais simplificadas como por exemplo as tigelas, e outros apresentando formas mais complexas como vasos de base dupla, urnas funerárias, estatuetas, pratos, tangas e tigelas em pedestais.
A cerâmica marajoara é geralmente caracterizada pelo uso de pintura vermelha ou preta sobre fundo branco.
Uma das técnicas mais utilizadas para ornamentação desta cerâmica é a do champlevé ou campo elevado, onde são conseguidos desenhos em relevo por meio de decalque de desenhos sobre uma superfície alisada e escavando em seguida a área sem marcação.
Entre os motivos de decoração mais comuns encontrados nesta cerâmica estão animais da fauna amazônica, como serpentes e macacos, a figura humana e figuras antropozoomórficas. Tendo em vista o aumento a sua resistência do produto final eram agregados antiplásticos ou tempero na argila, dentre os quais cinzas de cascalho e de ossos e concha. Antiplástico ou tempero são termos que se utiliza para designar os elementos, como por exemplo, cacos, conchas moídas, cascas de árvores queimadas e piladas, espículas de esponjas, areia, etc. que são acrescentados na argila para torná-la mais resistente evitando que se quebre durante o processo de fabricação de um artefato.
Depois de modelada, a peça era pintada, caso o autor o pretendesse, com vários pigmentos, existindo uma abundância de vermelho em todo o conjunto encontrado, e somente depois cozidas numa fogueira a céu aberto. Após a queima da cerâmica, esta era envernizada, propiciando à peça um aspecto lustroso. São conhecidas cerca de 15 técnicas de acabamento das peças, revelando um dos mais complexos e sofisticados estilos cerâmicos da América Latina pré-colonial.
Os artefatos mais elaborados eram destinados ao uso funerário ou ritual. Os artefatos encontrados que demonstram uso cotidiano apresentam decoração menos rebuscada.
É dificultado o resgate de peças de cerâmica marajoara pelas inundações periódicas e até pelos numerosos roubos e saques do material, frequentemente contrabandeado para território exterior ao brasileiro.


Fonte: Wikipedia / Fotos: Propriedade de CasaGrande & Senzala  www.casagrandeesenzala.com 

sábado, 22 de outubro de 2011

Sobre o livro que nos inspirou.


Casa-Grande & Senzala é um livro escrito pelo autor brasileiro Gilberto Freyre, e publicado em 1 de dezembro de 1933. Através dele, Freyre destaca a importância da casa grande na formação sociocultural brasileira bem como a da senzala que complementaria a primeira.
 Na opinião de Freyre, a própria estrutura arquitetônica da Casa-Grande expressaria o modo de organização social e política que se instaurou no Brasil, qual seja o do patriarcalismo. Isto posto que tal estrutura seria capaz de incorporar os vários elementos que comporiam a propriedade funciária do Brasil colônia. Do mesmo modo, o patriarca da terra era tido como o dono de tudo que nela se encontrasse como escravos, parentes, filhos, esposa, etc. Este domínio se estabelece de maneira a incorporar tais elementos e não de excluí-los. Tal padrão se expressa na Casa-Grande que é capaz de abrigar desde escravos até os filhos do patriarca e suas respectivas famílias.
Neste livro o autor tenta também desmistificar a noção de determinação racial na formação de um povo no que dá maior importância àqueles culturais e ambientais. Com isso refuta a ideia de que no Brasil se teria uma raça inferior dada a miscigenação que aqui se estabeleceu. Antes, aponta para os elementos positivos que perpassam a formação cultural brasileira composta por tal miscigenação (notadamente entre portugueses, índios e negros).

Gilberto Freyre sobre as críticas que recebeu


A vida de Gilberto Freyre, após a obra Casa-Grande, passou a ser um eterno explicar-se. Incansavelmente, repetia que não fora criador do mito da democracia racial e que o fato de seus livros terem reconhecido a intensa miscigenação entre as raças no Brasil não significava decerto a ausência de preconceito ou de discriminação. Gilberto Freyre apontou que muitos (inclusive americanos) dizem ser os Estados Unidos uma "democracia exemplar" ao passo que a escravidão e a segregação racial estiveram presentes durante a maior parte da história norte-americana. Exemplo de desabafo contrário à acusação de ter criado a idéia de equilíbrio racial no Brasil pode ser extraída da entrevista realizada com o autor em 15/3/1980. À pergunta: “Até que ponto nós somos uma democracia racial?”, formulada pela jornalista Lêda Rivas, Freyre respondeu:
“(…) Democracia política é relativa. (…). Sempre foi relativa, nunca foi absoluta(…).Democracia plena é uma bela frase (…) de demagogos, que não têm responsabilidade intelectual quando se exprimem sobre assuntos políticos. (…). Os gregos, aclamados como democratas do passado clássico, conciliaram sua democracia com a escravidão. Os Estados Unidos, que foram os continuadores dos gregos como exemplo moderno de democracia no século XVIII, conciliaram essa democracia também com a escravidão. Os suíços, que primaram pela democracia direta, até há pouco não permitiam que mulher votasse. São todos exemplos de democracias consideradas, nas suas expressões mais puras, relativas. (…). O Brasil (…) é o país onde há uma maior aproximação à democracia racial, quer seja no presente ou no passado humano. Eu acho que o brasileiro pode, tranqüilamente, ufanar-se de chegar a este ponto. Mas é um país de democracia racial perfeita, pura? Não, de modo algum. Quando fala em democracia racial, você tem que considerar [que] o problema de classe se mistura tanto ao problema de raça, ao problema de cultura, ao problema de educação. (…) Isolar os exemplos de democracia racial das suas circunstâncias políticas, educacionais, culturais e sociais, é quase impossível. (…). É muito difícil você encontrar no Brasil [negros] que tenham atingido [uma situação igual à dos brancos em certos aspectos...]. Por quê? Porque o erro é de base. Porque depois que o Brasil fez seu festivo e retórico 13 de maio, quem cuidou da educação do negro? Quem cuidou de integrar esse negro liberto à sociedade brasileira? A Igreja? Era inteiramente ausente. A República? Nada. A nova expressão de poder econômico do Brasil, que sucedia ao poder patriarcal agrário, e que era a urbana industrial? De modo algum. De forma que nós estamos hoje, com descendentes de negros marginalizados, por nós próprios. Marginalizados na sua condição social. [...]. Não há pura democracia no Brasil, nem racial, nem social, nem política, mas, repito, aqui existe muito mais aproximação a uma democracia racial do que em qualquer outra parte do mundo”.
E ao prefaciar a obra Religião e Relações Raciais, de René Ribeiro, Gilberto Freyre mais uma vez afirmou:
“Tão extremada é tal interpretação como a dos que pretendam colocar-me entre aqueles sociólogos ou antropólogos apenas líricos para quem não houve jamais entre os portugueses, nem há entre brasileiros, preconceito de raça sob nenhuma forma. O que venho sugerindo é ter sido quase sempre, e continuar a ser, esse preconceito mínimo entre portugueses — desde o contato dos mesmos como os negros e da política de assimilação, do Infante – e brasileiros, quando comparado com as outras formas cruas em vigor entre europeus e entre outros grupos. O que daria ao Brasil o direito de considerar-se avançada democracia étnica como a Suíça se considera — e é considerada — avançada democracia política, a despeito do fato, salientado já por mais de um observador, de haver entre os suíços não raros seguidores de (…) idéias políticas de antidemocracia”.
O fato de não haver se filiado à corrente maniqueísta esposada por alguns dos líderes negros talvez tenha custado muito caro ao sociólogo. Mas a verdade é que Freyre bem conhecia a realidade estadunidense, a tal ponto de não poder associá-la, nem aproximá-la, da realidade brasileira. Usualmente Freyre tecia considerações sobre as diferenças entre o sistema de segregação institucionalizada, operada nos Estados Unidos e o racismo praticado no Brasil. Nesses termos, afirmava:
“Não é que inexista preconceito de raça ou de cor conjugado com o preconceito de classes sociais no Brasil. Existe. Mas ninguém pensaria em ter Igrejas apenas para brancos. Nenhuma pessoa no Brasil pensaria em leis contra os casamentos inter-raciais. Ninguém pensaria em barrar pessoas de cor dos teatros ou áreas residenciais da cidade. Um espírito de fraternidade humana é mais forte entre os brasileiros que o preconceito de raça, cor, classe ou religião. É verdade que a igualdade racial não se tornou absoluta com a abolição da escravidão. (…). Houve preconceito racial entre os brasileiros dos engenhos, houve uma distância social entre o senhor e o escravo, entre os brancos e os negros (…). Mas poucos aristocratas brasileiros eram rígidos sobre a pureza racial, como era a maioria dos aristocratas anglo-americanos do Velho Sul”

Fonte: Instituto Milleniuim